quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Sobre Carnaval, enquanto o ócio criativo não regressa…

Mergulhado na vida real, seus embates e compromissos, continuo bloqueado em minhas possibilidades criativas e críticas neste blogue. Mas, lutando desesperadamente para mantê-lo com um mínimo de informação e dignidade crítica, transcrevo a baixo o excelente comentário do colunista Regis Tadeu, sobre os carnavais de hoje. Espero que vocês apreciem…

Durante alguns dias, vou tentar escapar da verdadeira ditadura televisiva imposta pelo Carnaval, mas sei que não vou conseguir. Tenho plena consciência de que serei nocauteado por frases imbecis, proferidas por exércitos de exibicionistas, todos ansiosos por uma suruba que nunca se concretiza. Serei submetido a grotescos espetáculos de alegria plástica, sem vida, provenientes de gente cuja maior qualidade é exibir cirurgias plásticas – algumas invejáveis, outras semelhantes a serviços de borracharia mal feitos -, sem um pingo de autenticidade, sem o menor resquício de emoção sincera.

Não tenho nada contra a exposição de corpos femininos nus – muito pelo contrário! -, desde que eles venham acompanhados de uma aura de sensualidade e beleza. Não há espaço para a ingenuidade em avenidas salpicadas de pessoas mortas por dentro, muito menos para o tesão. O que resta é um festival de repugnância proporcionado pelas emissoras de TV. É duro admitir, mas a burrice parece ter se tornado item de cesta básica. Conseguimos a proeza de profissionalizar a idiotice!

O Carnaval se tornou um evento para os outros. Empresas, fabricantes de cervejas, socialitesdeformadas pelo excesso de botox a ponto de se parecerem com lagartos, celebridades emergentes de 97ª categoria, playboys babacas, garotas de programas disfarçadas em atriz e modelo… É para essa turba falsamente animada que a festa do Rei Momo (quem?) existe hoje. O tumulto resultante é o espelho fiel do que o Brasil se tornou. Para os turistas estrangeiros, somos alegres bufões, sorridentes mesmo quando sabemos que milhares de crianças morrem como moscas porque não têm o que comer. Na verdade, no fundo da alma, essa cambada de “ex-BBBs da vida real” se comporta como palhaços desdentados, subnutridos de inteligência e bom senso. As pessoas se tornaram prisioneiras da imagem daquilo que se espera delas.

O Carnaval é um retrato cheio de purpurina da realidade que vivemos: tumultuado, confuso, artificial, violento, narcisista, louco – no pior sentido da palavra -, bruto e patético. O problema não é o Carnaval, mas sim o que ele espelha.

Não, não tenho saudade do passado, mas percebo que, em um tempo não muito distante, vivíamos de uma maneira diferente, mais cordial e sincera, mesmo quando nosso espírito mambembe se confrontava com o início de uma nova ordem, que determinava que só a exibição contínua e a qualquer preço seria o caminho para uma “carreira de sucesso”.

Por que existe tanta gente disposta a fazer qualquer coisa para ganhar dinheiro e/ou aparecer na TV? A resposta pode estar no fato de que essa imensa massa de imbecis está totalmente desiludida com os benefícios que a aquisição de cultura pode trazer ao espaço vazio que existe entre as suas orelhas. A turba de idiotas prefere o caminho mais fácil, que passa pelo constrangimento de expor suas vergonhas intelectuais e físicas em cadeia nacional.

Como é possível fazer germinar a cultura de um país por meio da massificação? E quando escrevo “cultura”, me refiro também à música, um dos principais combustíveis para nossa existência. Como acreditar na musicalidade de um Carnaval em que os samba-enredos são todos iguais, a ponto de você esqucer cada um deles segundos depois de ouvi-los?

Hoje, fazer parte do Carnaval é trabalhar como um macaco de realejo perante uma plateia cheia de zumbis sorridentes. Se essa é a sua noção de “alegria popular”, vá fundo. Mas depois não diga que eu não o avisei…

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

A primeira aula de Filosofia


Como em geral se inicia um curso de Filosofia, seja para alunos do Ensino Médio, seja para universitários?
Com a definição do termo, "amigo da sabedoria" (philos = amigo; sophos = sabedoria), os primeiros filósofos (desde Tales até Sócrates, Platão e Aristóteles); em seguida entram os temas ou a divisão da filosofia em suas sub-especialidades:

- o Ser = Metafísica, Ontologia, Teodiceia
- o Conhecer = Teoria do Conhecimento, Epistemologia (ou Filosofia da Ciência), Lógica, Filosofia da Linguagem, Filosofia Social, Filosofia da História
- o Valor (ou o Agir) = Ética, Estética, Teoria dos Valores


Alguns professores iniciam com a História da Filosofia antiga, mas como levar os alunos a compreender noções básicas como a de "ideia" para Platão? E que dizer, mais adiante, de filósofos complexos como Kant? ou Hegel? 

A tentação é ir logo para a chamada filosofia prática, engajada, para plantar na cabeça dos alunos uma linha, a da dialética, a da luta social, a do poder à classe oprimida, aos camponeses, aos pobres em geral. Insufla-se a ideia de que a injustiça social é um problema básico do capitalismo, que este é basicamente o mal social maior. Visa o lucro. 

Ora, é fácil e perigoso instilar esse tipo de ideologia, evidentemente não se trata de Filosofia... Trata-se de desonestidade intelectual, pura e simples.


Por outro lado, o ensino tradicional requer o uso de muitos conceitos abstratos, aos quais os alunos não estão habituados. E, nessa altura, com tanta nomenclatura, o interesse dos alunos se esvazia...
Como contornar o problema didático (ensinar temas e conteúdos, e também História da Filosofia) e despertar o interesse, levar os alunos à compreensão do que seja Filosofia e filosofar?!


Sugestão: sem deixar de lado o compromisso didático com os temas e conteúdos, a cada vez que se introduzir um tema (por exemplo, em Metafísica, o tema do ser, da existência, das causas), entraria um filósofo para ilustrar o conceito em questão, e, importantíssimo,o professor começa a levantar dúvidas, a fazer perguntas. O meio para atingir o interesse é estimular a curiosidade,  levar a reflexão à experiência pessoal, à vida, aos interesses, ao modo de agir e de pensar dos adolescentes e dos jovens.

Tomando o exemplo da questão do ser (que é das mais abstratas), o professor pode indagar sobre tudo o que existe, como existe, e que todos os seres vivos fatalmente acabarão, morrerão. Se alguém teve a dolorosa experiência da morte de alguém próximo, que é "fim", "não ser mais", pedir que o aluno tente expor como é não ser mais, a ausência, a sensação de nada, de vazio. Na medida do possível, o professor deve usar vocabulário do dia a dia para facilitar a reflexão. 

Moore, um filósofo contemporâneo, intrigado com a experiência de que seria pai, perguntou a sua esposa:
"Como é carregar em você um ser que não é o seu ser?" E indagações como essa podem levar a insights filosóficos. O professor pode pedir para que seus alunos escrevam respostas a esses questionamentos do cotidiano. 
Quando o mestre menos esperar, seus alunos estarão se iniciando no caminho filosófico.

IA substituirá professores?

Futuro já começou? Uma escola do Reino Unido está chamando a atenção na internet ao divulgar sua primeira turma sem professor. O...