32 - A importância do conhecimento

A importância do conhecimento

Se pegarmos o pensamento aristotélico, pode-se dizer que os humanos se diferenciam do animal que não possui inteligência simbólica pela capacidade que os seres humanos têm de pensar e, ao fazê-lo, problematizar o seu entorno físico e cultural. Você já pensou sobre os problemas ao seu redor? Percebe como isso é importante? Quando falamos de inteligência simbólica nos referimos à capacidade que temos de inferir sobre o objeto ao qual estamos buscando conhecer, no caso do entorno físico estamos nos referindo à Natureza propriamente dita; o céu, as árvores, o mar e tudo que nos rodeia. Já, o entorno cultural refere-se a tudo o que o ser humano produz ao ser, estar e agir no mundo, o que construímos seja de forma estrutural ou cultural; música, arte, etc.. Temos que ter em mente que o ser humano interfere na realidade natural e a modifica, enquanto os outros animais apenas são predominantemente adaptativos ao ambiente em que se encontram.

Um exemplo clássico que demonstra essa constatação é o caso do João-de-barro (Furnarius Rufus), o passarinho que, desde que existe na face da Terra, constrói a mesma moradia. Veja a foto ao lado e perceba que ele não usa uma inteligência simbólica, ele não “pensa” ou copia a casa dos outros pássaros, na verdade, essa construção é um produto de uma programação instintiva, a qual o João-de-barro não tem como negar e acaba fazendo intuitivamente.

O ser humano, entretanto, começou morando em cavernas e ao contrário do João-de-barro, com o tempo acabou construindo suas próprias cabanas ou choupanas. Mais a frente, ao pensar, desenvolveu técnicas que possibilitaram a construção de casas de madeira, tijolos e cimento. Atualmente, ele utiliza estruturas arquitetônicas sofisticadas para construir todo tipo de moradia: edifícios altíssimos e casas que tentam ser à prova de terremotos e furacões.

Como exemplo você pode ver a foto do Burj Khalifa Bin Zayid, anteriormente conhecido como Burj Dubai, que é um arranha-céu localizado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, sendo a mais alta estrutura e, consequentemente, o maior arranha-céu já construído pelo ser humano, com 828 metros de altura e 160 andares.



Aí fica a pergunta, por que o humano progrediu e o João-de-barro, não? Já parou para pensar nisso? Uma pista para respondermos a essa pergunta é o fato de que o ser humano, à medida que ia explorando seu objeto, que seria a casa, a moradia. Também ia pensando sobre ele e problematizando a arte de como fazer e construir casas cada vez melhores e mais confortáveis, coisa que o João-de-barro, até onde sabemos, não dá conta de realizar. A conclusão a que podemos chegar: pensar, sentir, problematizar e agir são ações importantíssimas no processo de produzir informações, conhecimentos e saberes e são atividades inerentes e exclusivas dos seres humanos.

3.3 Penso, logo existo!

Você já deve ter ouvido essa famosa frase de René Descartes (1596-1650), “penso, logo existo”, ela é uma das lições mais famosas da Filosofia. Muitos filósofos, desde Kant a Sartre, passaram pelos textos cartesianos e, em muitos casos, ajudaram a formular seus próprios construtos. A grande sacada está no conjunto de pensamentos que Descartes ajudou a construir. Foi a partir dos seus pensamentos que vários filósofos ajudaram a (re) pensar os grandes conceitos filosóficos e ajudaram a formar a Filosofia que conhecemos hoje. Nesses conceitos podemos citar: o que é substância, o problema da relação entre mente e corpo, a noção de sujeito, o problema do movimento na física, as paixões da alma, os conceitos de finalidade, verdade, identidade, erro e muitos outros. Percebe como o pensar faz parte da nossa vida mesmo sem percebermos?

Quando pensamos em Descartes, pensamos logo na sua obra “Discurso do Método” e nela encontramos o que pode ser considerado o ponto de partida de toda a Filosofia Moderna e Contemporânea:


" Mas, logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim pensar

que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava,

fosse alguma coisa. E notando que essa verdade: eu penso logo

existo, era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes

suposições dos céticos não seriam capazes de abalar, julguei que

podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia

que procurava. "

DESCARTES, R. Discurso do método; Meditações; Objeções e respostas; As

paixões da alma; Cartas / René Descartes (1596-1650).


Partindo desse ponto, o que Descartes queria dizer é que a única coisa de que não podemos duvidar é de que estamos aqui fazendo os nossos próprios questionamentos. Portanto, a dúvida é o ponto de partida para a construção do conhecimento. Quando você pensa, reflete, ou, simplesmente, posta um texto pessoal nas redes sociais está formando algum tipo de conhecimento. Desse princípio, a afirmação de “penso, logo existo”, em latim, “cogito, ergo sum”, significa que o ser que pensa é verdadeiro, caso contrário, toda a existência perde a sua consistência; nada faria sentido.

Contudo, até esse momento, Descartes não conseguiu a garantia de que o seu pensamento efetivamente corresponda à realidade. É aí que podemos perguntar, o que é “real”? Quer um exemplo? Você já dormiu e no meio do sono sentiu que caía num buraco? Ou estava na rua e tinha quase certeza que estava sendo seguido, mesmo não tendo ninguém a sua vista? O próprio Descartes se perguntava como poderíamos ter certeza de que a nossa vida e o mundo como um todo não seriam apenas um sonho? O que garante que o meu raciocínio corresponde à realidade ou que as coisas de nossa mente têm existência e não são mera imaginação? Para resolver esse problema e provar que o mundo tem realidade, ele queria demonstrar que a razão humana tem a capacidade de provar qualquer coisa, por isso, propôs-se a provar com ela a existência de Deus, pois seria a coisa mais difícil de ser provada. Se pudesse provar a existência de Deus com o uso da simples razão, então todas as outras coisas poderiam ser explicadas com a razão da mesma forma.

Apesar de ser uma questão antagônica, pois, na verdade, essa foi uma época marcante onde a razão passou a ter um papel fundamental para a construção de uma Filosofia Epistemológica, com isso, poderíamos entender e explicar a realidade apenas com o pensar racional e, assim, não se precisaria mais de crenças sobrenaturais. Percebem como é complexo o pensar e filosofar?

Reflita na tirinha abaixo e veja como está “gastando” ou “investindo” o seu pensar. Será que gastamos tempo com assuntos que realmente nos importam?



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