terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Agostinho e a Vida Feliz

A filosofia greco-romana teve como preocupação central a busca da felicidade. Agostinho tomou o mesmo objeto para análise, contudo, com algumas mudanças na visão da eudaimonia: mudanças com relação ao lugar e ao método para alcançar a felicidade. Ademais, a filosofia não é vista pelo pensamento agostiniano como um fim em si mesma, ela passa a ser um meio, é o “porto”. A busca pela eudaimonia é um problema que passa por toda a obra do Bispo de Hipona. De acordo com Agostinho, a razão para filosofar é a felicidade e esta é algo imanente ao homem. Sendo assim, a felicidade faz parte de sua natureza. Destarte, as perguntas componentes da obra A vida feliz, de Agostinho, são sobre onde está a felicidade, como e onde o homem pode ser feliz. São a esses problemas que Agostinho tenta responder ao longo desse diálogo.


Santo Agostinho de Hipona

Santo Agostinho e o diálogo A Vida Feliz

Devido à importância dessas questões, tanto no pensamento greco-romano quanto no pensamento de Agostinho, temos por objeto, no presente trabalho, a análise do segundo momento do diálogo A vida feliz. Neste ponto do diálogo – do parágrafo 10 ao 12 – Agostinho faz um itinerário argumentativo, juntamente com seus discípulos, com a finalidade de descobrir qual é o bem que a alma deve ter posse para ser feliz e quais são as maneiras de a alma obter esses bens.
Agostinho busca saber qual é o alimento necessário à alma e questiona seus interlocutores se aquele não seria a ciência, o conhecimento. Mônica – mãe de Agostinho – responde à questão afirmando que o alimento da alma não é outra coisa senão a ciência e o conhecimento das coisas. É das especulações e pensamentos que a alma alimenta-se. Assim, os homens ignaros encontram-se em jejum, famintos já que estão vazios de ciência e cheios de maldades e vícios.
Agostinho fala sobre a falta de alimento para a alma dizendo que, assim como o corpo, a alma, quando privada de alimento, fica exposta a doenças acarretadas por suas carências. A isso chama de malignidade – nequitia – a qual é caracterizada pela filosofia agostiniana como uma decomposição, como raiz de todos os vícios porque é o nada, o vazio.
A ignorância da alma é identificada com a perversão moral e isso implica uma relação entre conhecimento e moral devido ao fato de que estes não existem de modo isolado. Já sabendo que a alma viciada possui nequícia, especula-se qual o nome da virtude possuída pela alma nutrida de ciência: esta virtude é a frugalidade. A frugalidade é o oposto da nequícia, é uma virtude que evoca fecundidade. Já a nequícia relaciona-se à esterilidade. Agostinho afirma que a virtude deve ser associada ao que é idêntico a si mesmo, ao que é imutável, enquanto o vício é associado ao mutável: “Quando existe algo que perdura, se mantém, não se altera e sempre fica semelhante a si mesmo, aí está a virtude” (AGOSTINHO, II, 8).
A frugalidade, segundo o filósofo, é o elemento mais belo da virtude, é uma virtude dos que tem a alma plena, preenchida de conhecimento. Não obstante, nota-se que plenitude e frugalidade são duas noções indissociáveis da filosofia agostiniana: a alma virtuosa é plena de modo necessário. O mesmo ocorre para a relação existente entre a nequícia e o nada: a alma viciada é vazia. Conforme se pode notar nesta parte da obra, a investigação acerca do alimento da alma ocorre partindo de um critério de imutabilidade, pois Agostinho encontra-se a elaborar um conceito de alma imaterial e, dessa forma, o alimento desta também deve ser imaterial e imutável. O vício é tomado como o nada que triunfa, como mutável. A virtude, por sua vez, é a identidade, não perece, é imutável. O elemento de maior importância e belo da virtude é a frugalidade (ou temperança). A obtenção da virtude é de suma importância, pois “virtude é o que confere à alma sua perfeição e a torna boa” (GILSON, 2007, p. 24) .
Agostinho finaliza o oitavo parágrafo afirmando que saber que a alma possui alimentos saudáveis e insalubres, é o caminho para se buscar a felicidade. São oferecidos alimentos para a alma e para o corpo no dia de seu aniversário. Todavia, o alimento para a alma só será servido se todos os presentes no diálogo tiverem apetite dele. O primeiro momento do capítulo II – o que corresponde ao primeiro dia do diálogo – tem seu desfecho quando Agostinho relaciona a metáfora alimentar com a data de início do diálogo.
Após relacionar a nutrição do corpo e da alma com os alimentos oferecidos – tanto para a alma quanto para o corpo – no dia de seu natalício, é estabelecida uma relação entre o alimento da alma e felicidade. Ao buscar no que consiste a felicidade, depara-se com o critério de imutabilidade do alimento da alma. Agostinho questiona aos seus interlocutores se quem não tem o que quer é feliz. A resposta é negativa, pois nem todos que tem o que querem são felizes. Assim, a questão é invertida por Agostinho: quem tem o que quer será feliz? Sua mãe responde positivamente, desde que o que se possui e se quer seja o bem. Mônica alcança o cume da Filosofia, segundo Agostinho, ao afirmar o mesmo que Cícero na obra Hortensius – obra esta responsável pelo despertar de Agostinho para a Filosofia. Ademais, Cícero afirma que não é suficiente possuir qualquer coisa desejada para ser feliz. O homem é mais infeliz quando deseja algo que não convém do que quando não tem o que deseja. Neste momento do diálogo, Licêncio toma a palavra e pede ao aniversariante que diga quais as coisas necessárias para se alcançar a felicidade e quais as coisas que se pode desejar para chegar até a mesma. Agostinho não responde à questão devido ao fato que muitos problemas serão examinados até que se possa afirmar no que consiste a felicidade.
Agostinho retoma os resultados obtidos até então: 1) ninguém pode ser feliz sem possuir o que deseja; 2) possuir o que se deseja não é garantia de felicidade. Eis aqui um impasse. Para resolvê-lo, Agostinho afirma que é necessário descobrir o que o homem deve possuir para ser feliz e Licêncio buscava descobrir o que é conveniente de se desejar. Já que a felicidade deve conter um bem do qual sua existência depende, faz-se necessário que esse bem não seja mutável, que não desapareça para garantir a existência da felicidade: “Se alguém quiser ser feliz, deverá procurar um bem permanente, que não lhe possa ser retirado em algum revés de sorte” (AGOSTINHO, II, 11). O critério de imutabilidade da vida feliz é aceito por todos, exceto por Teodósio.
Para ser verdadeiramente feliz, afirma Agostinho, não se pode temer perder a felicidade. A vida que se norteia pela posse de bens frágeis, perecíveis, não pode ser feliz, porque se tem medo de perder a felicidade e; pelo fato de as coisas relativas serem marcadas pela insaciabilidade e pela incompletude, a posse de bens frágeis nunca será satisfatória: sempre há de se desejar mais, algo além do que se possui. A consequência disso é a infelicidade, haja vista que não há estabilidade necessária para a plenitude. Deve-se ter em mente que plenitude e felicidade se ligam intrinsecamente porque “A plenitude é absolutamente necessária à felicidade” (GIlSON, 2007, p. 21), também por ser o oposto da carência e da miséria.
Na sequência do diálogo, é afirmado que o que tem a capacidade de tornar o homem feliz não é a posse de um bem externo a ele, mas sim a posse de algo incorpóreo que possua a mesma natureza da alma. A virtude apresenta-se, pois, como imutável e o bem buscado para se alcançar a felicidade deve ser visto como o que não pode ser retirado do homem quando há uma reviravolta em sua sorte. Agostinho conclui que é feliz quem possui um bem imutável. Esse bem imutável é Deus. Assim, é feliz quem possui a Deus.
Com a conclusão de que é feliz quem possui a Deus, surge uma nova questão: quem possui a Deus? Três respostas são dadas: 1) possui a Deus quem vive bem; 2) possuí a Deus quem faz o que Ele quer que se faça; 3) Possui a Deus quem não possui em si um espírito imundo.
A verdadeira felicidade está e só pode ser atingida em Deus. Desse modo, Agostinho diferencia seu pensamento do pensamento da filosofia antiga por ter como fundamento último do eudaimonismo o sobrenatural. Fica, portanto, claro que a busca da felicidade é a busca de Deus. Deus é o único que pode dar estabilidade ao homem. O filósofo busca a verdade com a finalidade de ser feliz. A felicidade encontra-se na posse da Verdade-Deus. Somente ao encontrar Deus, o homem encontra a sua felicidade. Vale ressaltar que a felicidade “encontra-se no próprio homem, na sua interioridade, não em um sentido panteístico, mas como imanência/ transcendência, quando Deus revela-se ao homem enquanto Verdade” (COSTA, 2012, p. 25). Todavia, a questão acerca de quem entre os homens possui Deus é deixada para o segundo dia do diálogo.
Referências Bibliográficas:
 AGOSTINHO. A vida feliz. Col. Patrística, 11. São Paulo: Paulus, 1998.
COSTA, M. R. N. 10 lições sobre Santo Agostinho. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
GILSON, É. Introdução ao estudo de Santo Agostinho. São Paulo: Discurso Editorial; Paulus, 2006.
www.psicologiamsn.com

domingo, 25 de fevereiro de 2018

O SENTIDO DA VIDA SEGUNDO ARISTÓTELES E EPICURO

Na antiguidade, o sentido da vida consistia em alcançar a a verdadeira felicidade.
Aristóteles considerava que esta verdadeira felicidade só seria alcançável num estado de completa apatia, isto é um estado de indiferença sobre tudo aquilo que nos rodeia.
Este filósofo defendia que só a indiferença pelo destino, e uma vida livre de emoções de sensações poderá levar-nos à felicidade.
Com Epicuro, o sentido da vida passa a radicar, não no alcance da felicidade mas na satisfação de desejos e prazeres. Para Epicuro o prazer é a ausência de dor.
Para vivenciar esse prazer é fundamental evitar a dor e para isso não devemos viver com medos ou preocupações.
Porém, não defende uma vida recheada de luxos e excessos, mas uma vida em conformidade com a natureza e com os outros.
Para este filósofo não existia morte pois quando ela existe, ele é que não existe mais. Assim, nós nunca nos encontramos com a nossa morte.
Logo, devemos ocupar as nossas mentes com a nossa vida e desfrutar dela.
Epicuro defendia a ataraxia, isto é, uma ausência de preocupações aliada a uma paz de espírito.
A filosofia de Epicuro tem como base quatro fundamentos que nos permitem livrar de preocupações:

1 – Não há nada a temer quanto aos Deuses ( em geral não interferem na vida humana)

2 – Não há nada a temer quanto à morte (quando a morte chega, cessa a existência)

3 – O prazer é fácil de se obter (se for difícil, não é necessário)

4 – A dor é suportável (se for insuportável, não dura muito)

Seguindo estes fundamentos podemos satisfazer os nossos prazeres e desejos, longe de quaisqueres preocupações e assim encontrar o sentido da vida.


terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

A TERRA EM MINIATURA


Se pudéssemos reduzir a população da Terra a uma pequena aldeia de exatamente 100 habitantes, mantendo as proporções existentes atualmente, seria algo assim:
57 asiáticos
21 europeus
4 pessoas do hemisfério oeste (tanto norte como sul)
e 8 africanos
52 seriam mulheres
48 homens
70 não seriam brancos
30 seriam brancos
70 não cristãos
30 cristãos
89 heterossexuais
11 homossexuais confessos
6 pessoas possuiriam 59% da riqueza de toda a aldeia
e os 6 (sim, 6 de 6) seriam norte americanos.
Das 100 pessoas, 80 viveriam em condições subumanas.
70 não saberiam ler
50 sofreriam de desnutrição
1 pessoa estaria a ponto de morrer
1 bebê estaria prestes a nascer
Só 1 (sim, só 1) teria educação universitária.
Nesta aldeia haveria só 1 pessoa que possuiria um computador.
Ao analisar nosso mundo desta perspectiva tão reduzida é quando se faz mais premente a necessidade de aceitação, entendimento, e educação.
  Agora pense…
Se você levantou esta manhã com mais saúde que doenças, então você tem mais sorte que os milhões de pessoas que não sobreviverão nesta semana.
Se você nunca experimentou os perigos da guerra, a solidão de estar preso, a agonia de ser torturado ou a aflição da fome, então está melhor do que 500 milhões de pessoas.
Se você pode ir à sua igreja sem medo de ser humilhado, preso, torturado ou morto… Então você é mais afortunado que 3.000 milhões (3.000.000.000) de pessoas no mundo.
Se você tem comida na geladeira, roupa no armário, um teto sobre sua cabeça e um lugar onde dormir, você é mais rico que 75% da população mundial.
Se você guarda dinheiro no banco, na carteira e tem algumas moedas em um cofrinho… já está entre os 8% mais ricos deste mundo.
Se teus pais ainda estão vivos e unidos… Você é uma pessoa muito rara.
Se você leu esta mensagem, você tem melhor sorte que mais de 2.000.000.000 de pessoas neste mundo que não sabem, sequer, ler.

AMA E FAZE O QUE QUISERES





   Santo Agostinho procurou refletir sobre a melhor conduta que o ser humano devia seguir, delineando uma ética harmonizada com os preceitos morais cristãos. Na vida, há experiências que proporcionam prazer; entretanto, elas são apenas alegrias parciais e transitórias, incomparáveis com a felicidade absoluta de estar na presença de Deus. Essas experiências devem servir para que o homem dirija seu espírito ao verdadeiro bem, que é alcançável somente através de Jesus Cristo. Por exemplo, a contemplação das belezas naturais (como o céu, os mares, os animais, etc.) não deve ser apreciada como um fim em si mesma, mas sim como uma pequena amostra da verdadeira beleza, da alegria infinita que somente o criador de todas as coisas pode oferecer. Para Santo Agostinho, o amor é a essência da substância divina, está presente em todos os homens e é a energia que move o comportamento humano. Por isso, é por meio de seu direcionamento para a busca das verdades superiores que o homem pode atingir a felicidade de repousar em Deus. Em outras palavras, isso significa amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo, como determinam os evangelhos. O amor, entretanto, pode se dirigir para coisas passageiras, como o prazer carnal. Nesse caso, ele estará se desviando de sua natureza, que é a de almejar os prazeres superiores.


   Por meio desse raciocínio, chegamos à definição agostiniana de “mal”. Nas palavras de Santo Agostinho, o mal é: “a perversão da vontade desviada da substância suprema”. É o amor dirigido às criaturas como se elas tivessem valor por si mesmas, como se a sua Beleza, o prazer que proporcionam ou o afeto com que retribuem o amor não se originassem do ato de amor infinito de Deus: a criação. 

     Assim decifra-se o dito agostiniano “ama e faze o que quiseres”: se o homem ama verdadeiramente, isto é, como Deus ama, com gratuidade e fazendo o bem aos outros, sua vontade será guiada corretamente; por isso, ser e agir conforme a própria vontade, iluminada pelo amor divino é a garantia de que essa liberdade de ação será justa, ou seja, ética. O amor que conduz o homem a agir corretamente segundo a vontade de Deus, conforme Santo Agostinho ensinou, só vem a existir no coração dos indivíduos pela ação da “graça”, na exposição da polêmica que o bispo de Hipona manteve contra a heresia dos pelagianos.

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. Editora Ática. São Paulo: 2005.

IA substituirá professores?

Futuro já começou? Uma escola do Reino Unido está chamando a atenção na internet ao divulgar sua primeira turma sem professor. O...